Consumo sem freios dita as regras da sociedade

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Julie Melo Braga///

*Fonte: Google Imagens///
Não é novidade que a sociedade moderna encontra-se hoje na era do consumo. Mais do que necessidades, atendem-se a desejos. A oferta dos mais variados produtos cresce vertiginosamente, fazendo com que os mesmos sejam desvalorizados muito depressa. E não só de produtos se faz o consumismo, mas também de serviços. Todos eles líquidos, ou seja, esvaem-se facilmente. O consumo inconsciente é um ciclo vicioso que nunca acaba. Quanto mais se tem, mais se quer. É assim que o mercado trabalha: o consumidor não pode, de forma alguma, satisfazer-se com o que comprou. A busca pela satisfação torna-se, assim, constante. A frustração dada pela não realização dos desejos nunca abala a postura do fiel consumidor, que tem sua decepção amenizada por um novo desejo. A economia capitalista mira no consumidor, garante bens de consumo cada vez mais acessíveis e faz do consumo desenfreado seu sustento. É o que atesta o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra, Vida Líquida.
Muitas vezes, essa compulsão pelas compras é a solução encontrada para aliviar as dores e o estresse do cotidiano. Outro motivo para esse comportamento excessivo é o status social que se atribui a quem compra mais. A sociedade julga os indivíduos de acordo com seu grau de consumismo. Portanto, não é suficiente comprar, é preciso que te vejam fazendo isso. Você é o que você compra. E com a necessidade de se sentir pertencente a um grupo, as pessoas gastam, podendo ou não, a fim de levantar a autoestima e de se inserir na sociedade. O mais alarmante é que essa cultura consumista é considerada normal. Muitas pessoas acham que a súbita desvalorização dos produtos se deve à evolução da tecnologia e às novas tendências sempre recorrentes. Quase nunca, atribui-se a culpa do intenso consumo à sociedade capitalista, à economia de mercado. Elas visam ao permanente ato de comprar, transformam desejos e vontades em necessidades. Esse é o motor que mantém a locomotiva sempre em movimento. Um produto há pouquíssimo tempo comprado logo perderá sua graça, pois surgirá um substituto, que também perderá sua graça e assim por diante. 
O consumismo descontrolado é influenciado pela mídia. Através da propaganda, da TV, do cinema e do marketing das empresas, são estimulados os desejos dos indivíduos. Estes atendem amigavelmente aos apelos da publicidade e do mercado. Todos os dias, milhares de “novos” produtos são lançados, tornando velhos aqueles comprados ontem. Estes produtos têm sempre mais vantagens, mais utilidades e, claro, são mais atraentes. Porém, pouco se diferenciam daqueles “obsoletos”. O celular mesmo a cada dia carrega mais funções, chamando a atenção dos compradores fanáticos que adoram quantidade. Mas quantas dessas funções são realmente necessárias e utilizadas? Muitas delas são até desconhecidas. Vale ressaltar que todo mundo é consumidor, afinal consome-se aquilo que é essencial para a vida, mas nem todo mundo é consumista, aquele que faz dos desejos a manutenção de sua sobrevivência.
Entretanto, a sociedade da abundância não desvaloriza somente os produtos. As relações sociais e, principalmente, amorosas também se depreciam e são prontamente substituídas. Acostumados a trocar seus bens de consumo a toda hora, os consumistas tendem a se cansar mais rapidamente de seus companheiros e logo os substituem por outros, à espera no vasto mercado. Bauman comprova isso também em Amor Líquido. Por isso, os casamentos modernos não duram como os antigos. Já não há paciência para se manter relações demoradas. Se é possível trocá-las, faça.
Também o corpo é educado para o consumo. A incansável busca pela “boa forma” é, igualmente, sem fim. Nunca será atingido um padrão que agrade. Mas é preciso corresponder às exigências feitas pela sociedade. A insatisfação dos indivíduos com a própria aparência leva ao fenomenal culto ao corpo. O ideal a ser eternamente seguido se transforma em objetivo de vida. Não só o quanto você compra, mas também seu corpo e sua imagem dizem qual a sua posição na sociedade.
*Fonte: Google Imagens
Na moderna sociedade, nem as crianças estão livres dos excessos. O marketing voltado para elas sabe bem como atrair seus olhares, às vezes até melhor do que fazem com os adultos. As cores, as luzes, a estrutura das lojas de brinquedos, parques etc. fascinam e, muito convidativas, trazem as crianças para o mundo alienado ao consumo. A necessidade de estar inserido num grupo também é inerente a elas, que cada vez mais, assumem o controle da situação. Mais antenadas com as novidades tecnológicas e eletrônicas, as crianças dizem aos pais o que devem comprar, qual o melhor produto, a melhor marca. Ensinam ainda como utilizar estes produtos. Os pais, por sua vez, não percebem o pequeno consumista que surge ou não sabem como impor limites aos filhos.
Enfim, o consumismo se instalou na sociedade líquido-moderna e dita suas regras. Enquanto houver capitalismo, haverá mercado seduzindo compradores, haverá consumistas na infindável busca pela realização de seus desejos. Permanecem os valores mercadológicos e se diluem facilmente os princípios e as relações interpessoais. Nada mais tem valor. Apenas os objetos de desejo, mas só até que novos desejos tomem seu lugar.

2 comentários:

Arnin Braga disse...

Olá Julie!
ainda se lembra de mim? seu primo de Belém?
rsrs

Muito interessante este seu artigo. Vc se propõe a analisar a sociedade capitalista e seus efeitos, principalmente os prós e os contras do consumo exacerbado que este sistema econômico traz. O mais proveitoso é que vc fundamenta sua produção em um referencial teórico: Zygmunt Bauman, e sua obra "Vida Líquida".
No curso de Filosofia eu já tive contato com este autor e sua crítica ao capitalismo. Também existem outros críticos deste sistema muito interessantes como Karl Marx, Ortega y Gasset, Adorno e a Escola de Frankfurt.
De fato o consumismo exacerbado é o ponto chave do capitalismo, tanto que suas crises periódicas resultam da falta de consumo de alguns produtos. Karl marx nos diz que o capitalismo faz com que consideremos como necessidades de sobrevivência desejos que de fato não são. Por exemplo: não é necessidade de sobrevivência para nós ter mais de um par de sapato, ou mais de uma calça... (um par de sapato e uma calça resolveria a situação rsrs)... mas o sistema capitalista cria uma ideologia que nos faz acreditar que precisamos comprar estes podutos em excesso, para podermos nos sentir bem e estar de acordo com os outros.
Esse é um dos fatores que faz com que sejamos hoje tão consumistas. O que é uma pena, pois este consumismo exacerbado destrói a natureza e os valores, basta lembrar que atualmente você é o que você tem, o que você veste; o quanto você ganha... nã se leva mais em consideração o caráter das pessoas e sim seu poder de consumo.

bom... vou deixar de falar pois eu falo demais rsrsrs
gostei muito de seu blog
até mais.

Júnior & Julie disse...

Claro que me lembro de você, Arnin!
Dá pra ver que você tá por dentro do assunto. Já estudei também esses autores, mas ainda não tive a oportunidade de me aprofundar em suas teorias.
Não sou socialista, mas concordo em partes com suas visões, como esta do consumo sem limites. Uma das razões pelas quais mais concordo é justamente o fato de valorizarem o que você tem e não o que você é.

Muito bom o seu comentário! Volte sempre!

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