Por Julie Melo Braga
Choque! Essa é a palavra que descreve, literalmente, a
situação vivida por meus tios, Haroldo e Adriana, na noite passada. Neste 1º de
janeiro de 2013, os dois, que estão de férias em Aracaju, foram à lanchonete
Franques Lanches (rua 15, conj. Santa Lúcia), na companhia de seus três filhos.
Ao terminaram o lanche, meu tio foi ao caixa fazer o pagamento, enquanto a
esposa e as crianças esperavam na mesa. Brincando, o caçula Marcos, de cinco
anos, segurou em dois postes de ferro que sustentavam o toldo do
estabelecimento. Nesse momento, ele gritou. Minha tia olhou assustada, pois
percebeu que era um grito de dor. Porém, não sabia como agir, afinal o menino estava
apenas com uma mão em cada poste de ferro. Paulo, o filho mais velho, também
notou que não era brincadeira e segurou, então, com uma das mãos, o braço do
pequeno. Foi quando a família percebeu o que estava acontecendo. Paulo foi
jogado para trás pela força da corrente elétrica que era emitida daqueles
postes para o seu irmão. Felizmente, a força foi tamanha que fez com que Paulo
conseguisse soltar as mãos do pequeno Marcos dali. Seus braços já ficavam
vermelhos da queimadura. Os dois levaram um choque e tanto!
Depois do choque elétrico, veio o choque emocional. O
descaso dos funcionários e dos outros clientes daquele lugar foi de cair o
queixo. Quando avisados do ocorrido, os garçons agiram como se aquilo não fosse
um grande problema. Nem sequer comunicaram o fato ao dono da lanchonete, que estava
ausente no momento. O menino Marcos voltou para casa aos prantos, no colo da
mãe, que, abalada, também chorava. Após se acalmarem, o pai retornou à
lanchonete para tentar resolver a situação. “Falei novamente com os
funcionários. Perguntei se eles não iriam isolar aqueles postes que ofereciam
riscos. A resposta deles foi simplesmente não”, contou indignado. Para
completar, na mesma mesa próxima aos postes, já havia um casal também com uma
criança. Meu tio foi até eles para alertá-los, já que os funcionários não foram
capazes nem de fazer isso.
Conclusão da história: o tremendo susto de meus tios e
primos foi completamente ignorado por todas as pessoas que estavam ali. Ninguém
se abalou ou se comoveu com aquilo. Nenhuma palavra de solidariedade ou de
afeto foi proferida no momento de angústia. Nenhuma explicação foi dada. Nem
mesmo a água foi oferecida pelos garçons. Ela teve que ser paga. Não que não se
possa pagar pela água. Mas o simples fato de tê-la oferecido era um gesto
necessário naquela circunstância. Uma criança poderia ter morrido naquela hora.
Sim, ela poderia ter morrido! Não foi um simples choque. De acordo com Renato
Melo, eletricista aposentado da Petrobrás e também meu tio, ao tocar um poste
com uma mão e o outro com a outra, Marcos serviu de fio terra. A corrente
elétrica foi tão intensa que a criança não conseguiu se desgrudar dos postes e,
ao atravessar seu corpo, poderia tê-lo matado, se passasse pelo coração. O que aconteceu não poderia ter sido negligenciado
dessa forma.
É por isso que meu tio Haroldo vai processar o
estabelecimento. Sabemos que os funcionários podem não ter autonomia para
resolver os problemas da lanchonete. Talvez nem soubessem que os postes estavam
dando choque. Mas, pelo desprezo e falta de providência, o caso teve que ser
levado à Justiça. “Fiquei chocada tanto com a imprevidência dos garçons quanto
com a falta de solidariedade e humanidade das pessoas. Eu quase perdi meu filho”,
desabafou minha tia Adriana. Conto aqui esse episódio não só para denunciar a
lanchonete e alertar as pessoas que possam frequentá-la, mas, principalmente,
para mostrar como pode ser cruel o individualismo dos seres humanos. O choque
de Marcos passou, graças a Deus. Mas o choque da família permanecerá.
1 comentários:
"Assim caminha a humanidade..." O homem precisa se reinventar... onde está o cuidado, o zelo com o próximo...uma pequena mão generosa, uma simples atenção... gestos pequenos, detalhes vão sendo esquecidos.... que risco corremos...o ser humano virando um desumano ser? Não pode ser! Não podemos deixar isso prevalecer.... essa lógica está errada... o mundo estã tão "preso" ao mecanismo individualista que as pessoas não se enxergam mais, não escutam mais, não agem mais... a razão promovida pela sociedade vai encobrindo o que o humano tem de belo dentro de si....e termino esse desabafo com uma frase simples, mas pouco vivenciada por nós: "o essencial é invisível aos olhos..."
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